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Coram Deo? A vida perante, na presença e na realidade de Deus

Você deve esta se perguntando, o que é Coram Deo? O que isso significa? 

Muitos cristãos não conhecem, ouviram, ou mesmo tiveram contato com a palavra Coram Deo. Isso acontece devido há muitos fatores, um deles, é o distanciamento de uma geração de crentes do cristianismo histórico, da sua própria história e da tradição intelectual da igreja, fazendo de suas experiências empíricas a única forma de entender a vida e a realidade de Deus.  Mas esse não é foco desse pequeno artigo. Quero aqui, de uma forma direta, te ajudar a descobrir e entender o que de fato significa Coram Deo.  

Afinal, o que é Coram Deo?

Coram Deo é uma palavra em latim, usada principalmente durante a reforma protestante no século XVI. A sua tradução significa “diante de Deus”. Mas o que nos impressiona é fato do quão profundo é o conteúdo filosófico e teológico por trás das palavras. Seu foco principal é promover a consciência do que é uma vida cristã, sua essência e consequências. Porque viver na presença de Deus, perante Deus, sob a autoridade de Deus e para a glória de Deus vai muito além do “lugar secreto”.

A história cristã é marcada por muitas lutas e controvérsias. Irmãos que deram suas vidas – seguindo exemplo do seu Senhor, Jesus – para que a verdade pudesse ser transmitida e permanecesse. Das “grandes” lutas travadas por esses irmãos, está a noção do Senhorio de Cristo. Às vezes, até uma forma honesta, irmãos pensavam que a vida cristã era uma guerra entre dois mundos, de luta do bem contra o mal. E de dois reinos e dois reis. 

Sagrado e o profano

No período medieval era muito comum a ideia de dividir a vida e a realidade entre o sagrado e o profano; entre o religioso e o não religioso. A distorção dessa verdade promoveu um tipo de espiritualidade, mas parecida com neoplatonismo, aristotelismo e muitos outros “ismos” da filosofia clássica. E no período do iluminismo isso foi de fato “sistematizado” pelos cristãos, como uma forma de reação a tudo que estava acontecendo, diante de uma espiritualidade que não conseguia conectar a mensagem do evangelho com a vida, foi quase que inevitável a prática dessa dicotomia da vida, fazendo da vida cristã, da vida sacra “o mundo separado dos cristãos”. Então, foi contra esse tipo de pensamento reducionista que os reformadores protestaram afirmando que todos nós vivemos na presença de Deus, e que a vida é Coram Deo.

Lutero afirmava que:

“A existência humana é vivida coram deo, diante de Deus ou na presença de Deus.” Perguntaram a Lutero:  “O que um sapateiro convertido poderia fazer para servir melhor à Deus e ser um cristão melhor.” Lutero respondeu: “Faça um bom sapato e venda por um preço justo”.

Calvino falou coisas muitos semelhantes. Destacou que em todas as dimensões da vida, os seres humanos têm “negócios com Deus”.  

Imago Dei

Precisamos ter a consciência de que todas as pessoas, apenas por serem humanos, são a imagem de Deus (Imago Dei). São responsáveis diante de Deus por tudo o que são, fazem e pensam. 

Cada pessoa vive coram deo, isto é, perante a face de Deus, e assim é responsável diante dele por todo pensamento e ação. Todos os homens vivem diante Deus, aceitam isso ou não, acreditam nisso ou não. Pense comigo, alguém regenerado pela obra Cristo, como deveria viver diante de tal realidade? 

Viver a vida inteira na presença de Deus é entender que absolutamente tudo o que estamos fazendo e onde quer que estejamos fazendo, nós estamos agindo debaixo do olhar fixo de Deus. Por isso, tudo que o homem faz, o faz para a glória de Deus ou para a sua desonra.

Deus: a referência de tudo

Por isso, o conhecimento de Deus tem que nos levar para uma vida coram deo. Conhecer a Deus não afeta só a nossa teologia, ela afeta todas as áreas do saber e do viver humano. Sendo Deus a referência para todas as coisas que nós conhecemos. Portanto, uma vida cristã precisa ser uma vida coram deo. Uma vida não apenas pautadas nas experiências empíricas ou “sobrenaturais”, mas porém, uma vida Teoreferente!  Isto é; ter a Deus como referência de tudo.  

Se Deus é referência de tudo que eu conheço, então a leitura que eu faço de todas as coisas tem um ótica teológica, ótica cristã, é coram deo. 

O teólogo holandês Herman Bavinck diz :

“Desta graça comum (a providência de Deus para todos, crentes e incrédulos)  procede tudo o que é bom e verdadeiro que ainda vemos no homem decaído. A luz ainda brilha nas trevas. O Espírito de Deus vive e trabalha em tudo o que foi criado. Logo, ainda permanecem no homem certos traços da imagem de Deus. Há ainda intelecto e razão; todas as espécies de dons naturais ainda estão presentes neles. O homem ainda tem percepção e uma impressão da divindade, uma semente da religião. A razão é um dom inestimável. A filosofia é um dom admirável de Deus. A música também é um dom de Deus. As artes e as ciências são boas, proveitosas e de alto valor.”

Dualismo

Concluo que, embora não estejamos na era medieval e nem na época do iluminismo, um olhar para grande parte da igreja hoje, vemos que o coram deo é algo que se perdeu. A maioria dos crentes de nossa geração vive um cristianismo que é totalmente divorciado da sua experiência de realidade. É um cristianismo subjetivo, que só é percebido, ou vivido, quando a pessoa está na igreja, servindo em algum ministério, ou quando está fazendo missões transculturais, fazendo da vida e da vida cristã uma dicotomia prática. É muito comum vermos cristãos, em geral novos convertidos, falando a seus pastores: “quero muito servir a Deus, há alguma vaga em algum ministério para mim?”

Assim, há uma supervalorização das atividades consideradas “espirituais” e uma negligência com relação às atividades chamadas “seculares”, como o estudo, o trabalho, a família e as outras responsabilidades que, em tese, não estão diretamente relacionadas à nossa fé.

Com o “sapateiro” perguntado a Lutero, poderia servir a Deus fazendo sapatos. Afinal, o que sapatos têm a ver com o Reino de Deus? A questão é que o Reino de Deus não se resume às atividades realizadas na igreja, mas envolve tudo o que fazemos, falamos e pensamos. Tudo deve estar debaixo do senhorio de Cristo. Toda nossa vida é para a glória de Deus, todo nosso ser, todas as áreas que possamos atuar ou vivenciar está debaixo da glória de Deus e devemos usá-las para honrar e glorificar a Deus!

Coram Deo: tudo para a glória de Deus

Como nos ensina Abraham Kuyper nessas duas falas históricas:

“Não há um único centímetro quadrado em todos os domínios de nossa existência, sobre os quais Cristo, que é soberano sobre tudo, não clame: É meu!”

Portanto, devemos viver para glória de Deus, por meio do que somos e do que fazemos. Como ensinaram os apóstolos Paulo e Pedro: 

“Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus” (1 Coríntios 10:31).

“E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.” (Colossenses 3:17)

“Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!” (1 Pedro 4.11)

Soli Deo Gloria!

Um dos maiores desejos do ser humano é ter uma vida relevante. E nessa busca por significado é necessário descobrir nosso chamado. Compreender o papel que temos na história nos dará clareza para tomar decisões coesas quanto ao futuro. É preciso ser intencional. E, quando entendemos quem somos e para o que fomos colocados neste planeta, viveremos com mais contentamento, pois, caminharemos em convicção do nosso chamado. 

Então, voltemos ao início da história, porque ela nos aponta o fim. Como nossa aventura começou? E por que Deus decidiu nos criar? Como homem e mulher, qual é nosso fim principal? Estas são perguntas que sempre permearam o coração da humanidade desde os primeiros dias. 

No livro do “começo”: Gênesis, observamos Deus criando todas as coisas e soprando o fôlego de vida sobre Adão. Deus decidiu o criar a Sua própria imagem e semelhança. E a verdade que Deus não faz nada ao acaso. Além disso, em Seu mandato, o Senhor ordenou ao homem a multiplicação e o governo sobre a criação. E tudo o que Deus faz é bom e tem um propósito. É preciso compreender nosso chamado, leiamos:

“Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança… Criou Deus, pois, o homem  à sua imagem, à imagem de Deus os criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.” Gênesis 1.26-28

Na viração do dia

Quando olhamos para o início da criação e vemos Deus nos fazendo como homens a sua própria imagem e semelhança, não podemos negar que há um mistério ali. Na viração do dia Deus se encontrava com o homem. Na viração do dia o Senhor vinha conversar. Mas, a queda fez com que Adão e Eva se escondessem de Sua presença. Porém, a voz de Deus ressoou pelo jardim.

“Quando ouviram a voz do Senhor Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do Senhor Deus… E chamou o Senhor Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás? (Gênesis 3.8a,9)

A pergunta de Deus continua a ressoar. E em meio ao caos humano Ele olha para nós e pergunta: “Onde estás?” Não porque Ele não nos vê. Mas, porque Ele quer nos fazer voltar ao jardim e desfrutarmos de Seu amor singular

Fomos chamados para o Amor

Lembro-me que ainda adolescente, ao fazer minha Pública Profissão de Fé, responder as perguntas do Breve Catecismo de Westminster era uma de minhas tarefas. E a primeira questão consistia em esclarecer: “Qual o fim principal do homem?” A resposta na ponta da língua dizia: “O fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.” O que é totalmente verdade.

“Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.” Romanos 11:36

“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus.” 1 Coríntios 10:31

Mas, também é verdade que essa pode ser uma resposta bem ampla. Não devemos realizar adoração desconectada ao “gozá-lo para sempre”, isto é: sem amá-lo de todo o nosso coração, alma e força. Não devemos glorificar sem usufruir de Sua presença. Isto será como o sino que só faz barulho como descrito em 1 Coríntios 13. 

Sim, nós fomos feitos para Sua glória porque todas as coisas foram feitas para a glória de Deus. Porém, Ele nos criou para desfrutarmos de quem Ele É e de seu amor tão profundo. Ele nos criou para sermos filhos. Esse é nosso chamado principal.

“Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, Para louvor da glória de sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado,” Efésios 1:4-6

Nova Criatura

“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” 2 Coríntios 5:17

Quando Cristo nos conduz a salvação, estamos apenas no começo da jornada. Compreendemos que desde o início da história fomos chamados a um relacionamento de amor e adoração em tudo o que fazemos. Tudo faremos para o louvor d’Aquele que tanto amamos. 

Com a mente renovada como filhos, somos novas criaturas. Entendemos que nosso papel é viver da mesma forma que Jesus viveu. Seguimos ao Seu exemplo. Nos lembramos que o principal mandamento é amar a Deus sobre todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos. E isso tem a ver com a forma como servimos a Deus e aos nossos irmãos. 

Deus nos deu habilidades e dons singulares e há muitas formas de desenvolvermos ministério e serviço. Mas, de nada adianta o trabalho de nossas mãos se isso não estiver fundamentado em nosso chamado de amar a Deus e desfrutá-Lo acima de todas as coisas. 

Quantos de nós estamos familiarizados com a prática de parar e buscar conhecer a voz do Senhor através de um lugar de intimidade? Percebo que muitas vezes estamos tão atarefados em servir ao nosso Deus, que chegamos até mesmo a acreditar que essa seja a corrida que nos foi proposta. E constantemente, temos esquecido a melhor parte: estar com Ele e simplesmente ouvir a sua voz. Ouvir o que Ele tem pra nós a cada dia por meio da sua palavra. E assim, facilmente abrimos mão do nosso grande tesouro porque não conseguimos parar para conhecer o som da sua voz!

OUVI-LO É A MANEIRA SEGURA DE CONHECÊ-LO

Eu tenho experimentado algo novo acontecendo dentro de mim sempre que me ponho diante do Senhor para ouvi-lO. É nesse lugar que eu tenho sido exposta às Escrituras, à sua forma clara e segura de falar comigo. É onde eu percebo o mover de grande expectativa em meu interior por conhecer as verdades a respeito de quem Deus é e de quem eu sou nEle. Porque é nesse lugar de aprender a ouvir a Deus que o meu coração é iluminado para contemplar a realidade de Deus que toca todas as circunstâncias que me cercam.

É nesse lugar que eu reconheço as minhas falhas e dificuldades diante da luz da sua palavra. E que gentilmente percebo a Graça que me capacita para vencer os desafios reais na minha jornada! Certamente, não há outro momento em que eu sinta ser tão propício para ouvir a sua voz: Quando eu simplesmente me coloco diante dEle para esperar a sua direção, os seus conselhos, a sua voz, de maneira pessoal.

NOSSA PRIMEIRA AÇÃO É PARAR

A verdade é que sempre será desafiador mudar as nossas prioridades, o nosso primeiro fazer. E quando nosso primeiro fazer for parar? Parar diante dAquele que concede toda a sua atenção a nós, que é fiel em nos procurar e pacientemente nos desejar? A medida que eu começo a pensar profundamente sobre isso, posso então caminhar por meio da sua Graça ao dar início a essa busca de ouvir o Senhor. E reconhecendo que deverá ser constante estar nesse lugar de intimidade com Ele, eu busco a sua ajuda!

A boa notícia é que à medida que eu confio Nele, dia após dia, tudo vai se tornando mais leve, mais alinhado ao seu desejo em relacionar-se comigo, em compartilhar o som da sua voz. Então o meu coração não consegue ser nada menos que flexível, nada menos que facilmente ajustável ao Seu querer.

OUVIR OS SEUS CONSELHOS

Uma grande verdade sobre nós é que temos o íntimo desejo de conhecer os seus conselhos, saber quais são as suas palavras, discernir o som da sua voz ao ponto de que seja apenas ela que cerque os nossos passos, encha o nosso coração e renove os nossos pensamentos vez após vez.

Deus, o íntimo daqueles que te seguem deseja as tuas palavras, não apenas por um momento, mas por toda uma vida existe em nós o anseio de saber o que tens a dizer.

Ah, os seus sábios conselhos que jamais encontraríamos em nenhum outro lugar a não ser nesse em que podemos parar e renovar as nossas forças, em sua palavra. A forma como Ele fala nos constrange, nos levanta, nos faz chorar, nos consola e nos faz sentir a vida brilhando em nosso interior.

O LUGAR DE CONHECER TESOUROS

Ah esse lugar! Que presente é tê-lo disponível, que presente é saber que é possível ouvi-lo!

Tenho aprendido a desfrutar desse lugar de conhecer tesouros do coração de Deus enquanto estamos a sós, enquanto leio a sua palavra, rendendo o meu coração de volta a Ele. E eu sinto, sinceramente, como se eu me assentasse numa cadeira de madeira tão simples diante de sua majestade, do seu grande trono, e assim Ele me ensinasse! Eu ainda não conheci nada mais precioso do que ser ensinada por Ele, ser lembrada das palavras de Jesus por meio do Espírito Santo nesse lugar de intimidade e comunhão. Me dispor ao seu ensino e desejar mais do que qualquer outra coisa que possa ser legitimamente desejável.

Aceitai o meu ensino, e não a prata, e o conhecimento, antes do que o ouro escolhido. Porque melhor é a sabedoria do que joias, e de tudo o que se deseja nada pode se comparar com ela. Pv 8:10-11

A NOSSA GRANDE OPORTUNIDADE: OUVI-LO

Por fim, essa é a grande oportunidade da nossa jornada: ouvi-lo todos os dias!

Se pensarmos um pouco sobre o Salmo 19 em que “Os céus proclamam a glória de Deus!” Os céus que foram feitos por Ele dizem respeito a quem Ele é, imprimem honra ao seu nome! Quanto mais eu, reconhecerei o quanto devo buscá-lo, contemplando-O à luz da sua palavra, ouvindo a sua voz em meio a jornada, enquanto anuncio as obras que Ele faz!

É através dessa primeira coisa a fazer: estar com Ele, que devemos buscar nos mover antes de tudo! Conhecer quem Ele é e qual é o som de sua voz falando conosco todos os dias!

Por que um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Não há linguagem nem fala onde não se ouça a sua voz. A sua linha se estende por toda a terra, e as suas palavras até ao fim do mundo. A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do Senhor é fiel, e dá sabedoria aos símplices. Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; o mandamento do Senhor é puro, e ilumina os olhos. O temor do Senhor é limpo, e permanece eternamente; os juízos do Senhor são verdadeiros e justos juntamente. Mais desejáveis são do que o ouro, sim, do que muito ouro fino; e mais doces do que o mel e o licor dos favos. (Sl 19: 2-4 e 7-10)

Quero dividir com você os tesouros que tenho descoberto desde que comecei a ler o livro de Salmos. Há cerca de  dois anos comecei a ler um Salmo cada vez que ia orar por alguém.

Assim, Deus começou a me mostrar tesouros nesta porção da Palavra. Vou mostrar para você um dos meus preferidos shop, o Salmo 84, e como é possível ser fortalecido através destas palavras. 

Para começar, vamos falar do Salmo 84. Observe como essas lindas palavras se tornaram uma das minhas orações preferidas. 

“Quão amável são os teus tabernáculos, ó Senhor dos exércitos!

A minha alma suspira! sim, desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne clamam pelo Deus vivo.

Até o pardal encontrou casa, e a andorinha ninho para si, onde crie os seus filhotes, junto aos teus altares, ó Senhor dos exércitos, Rei meu e Deus meu.” Salmo 84: 1-3 

Esse Salmo me emociona todas as vezes que leio, pois lembro porque amo tanto essas palavras a ponto de tê-las gravadas em minha mente. 

Sim, nossa alma deve suspirar e clamar pelo Deus vivo e seus átrios. Assim como o pardal encontrou uma casa e a andorinha também achou seu ninho, devemos ter a certeza que nosso lugar seguro é com nosso Deus. 

Aliás, quero que você pense sobre isso, sobre esse lugar junto ao altares do Senhor. Reflita sobre o quanto esse lugar tem a nos oferecer. 

Salmo 84: somos parte do nosso Deus

O Salmo 84 sempre me mostrou que existe um lugar onde não nos sentiremos sozinhos, mas que seremos parte de algo. 

Nosso coração e nossa alma clamam pelo Deus vivo. Por um desejo de algo tão poderoso e forte que somente será suprido através de uma vida com Deus.

Assim sendo, ouse experimentar esse lugar que fala no versículo abaixo: 

“ Pois um dia nos teus átrios vale mais que mil; prefiro estar à porta da casa do meu Deus a permanecer nas tendas da perversidade.” Salmo 84:10 

Minha oração por você

Oro para você conseguir entender que é muito mais precioso estar à porta da casa do nosso Deus, do que estar nas tendas de tudo aquilo que desagrada o Senhor. 

O Salmo 84 me fez entender que amo e busco ao Senhor não para me manter longe do inferno, mas porque realmente necessito de Sua Presença para viver uma vida plena. 

Felizes são aqueles que entendem isso e colocam em prática. 

Afinal, você o busca por quem Ele é, por uma necessidade que só será saciada plenamente Nele. 

Quando entender isso, o pecado e seus altares não serão suficientes para suprir aquilo que somente será suprido na Presença do Soberano Deus. 

Leia esse Salmo completo hoje e deixe Deus ministrar ao seu coração como Ele tem feito comigo a cada vez que o leio. 

 

Esta não é mais uma história sobre a antítese “pobre e rico”, “príncipe e plebeu”, não é um conto, muito menos uma história motivacional. Muitas vezes, nos deparamos com este precioso salmo davídico e não paramos para refletir as verdades profundas que ele carrega. “O Senhor é meu pastor e nada me faltará”, não preciso me preocupar porque de fato não me faltará nada. Deus é meu pastor, então está tudo bem. Mas, será que eu realmente sei o que significa ter um Senhor? Eu sei mesmo o que é um pastor? O que ele faz, como cuida e se relaciona com seu rebanho? O que é um “Senhor”? Como alguém que é Senhor, pode ser um pastor?

Vamos meditar no primeiro verso do Salmo 23 e entender as preciosidades dessa frase e o que ele revela sobre o pastoreio do Senhor:

O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará. Salmo 23:1

O significado de Salmos 23

Neste salmo a palavra “Senhor” traduzida do hebraico “Yahweh”, significa “Aquele que existe”, “O único Deus verdadeiro”. Traduzindo do grego temos a palavra “Kurios“, a qual denota ao “direito exclusivo de posse e poder sem controle” significando supremacia, “Aquele a quem uma pessoa ou coisas pertence, sobre o qual ele tem poder de decisão”, e  “mestre, príncipe soberano”, de acordo com o dicionário strong.

A palavra “pastor” traduzida do hebraico “ra’ah”  significa “Apascentar, cuidar, alimentar, proteger” e também “associar-se com, ser amigo de, ser companheiro, um amigo especial”. Em João 10:11, Jesus fala: “Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas”. Nesse versículo de João traduzido do grego, a palavra pastor significa “poimen” e tem sentido de “aquele a cujo cuidado e controle outros submeteram e cujos preceitos eles seguem”, conforme o dicionário strong.

Quando me refiro a Senhor atribuo aquele que é o dono, o supremo, o Rei. Naturalmente pode soar um pouco distante, Ele é o Senhor, um Rei sentado num trono de Glória. Sendo assim, como uma simples ovelha indefesa ou uma menina com roupas comuns e sem beleza alguma pode se aproximar de um Senhor supremo e soberano?

Essa é a história de um Rei que governa e lidera com seu cetro de justiça as galáxias, a Terra, os céus e os mares, e se debruça sobre a ovelha para ser seu amigo próximo, ele se aproxima daquela menina e a chama para ter um relacionamento pessoal, construir uma amizade especial, se associar com ela, cuidar, proteger e alimentar.

E ele faz isso se aproximando de todas as maneiras possíveis, inclusive com vestes de pastor, deixa o cetro e pega o cajado, abandona a distância e vem pra perto. Se aproxima de tal forma que essa menina é capaz de “reconhecer sua voz” (João 10:4) e  se submeter à sua liderança.  Ela ama ser guiada e orientada por Ele, não apenas precisa dele, mas ela o quer. Este Senhor Pastor é sua busca ansiosa e desesperada, pois se ela sabe que O tem nada irá faltar.

O paradoxo perfeito

Essa é a história de amor de um Rei cheio de glória e também de um homem no madeiro, Ele é o Senhor Pastor que dá a vida por sua ovelha (Jo 10:11), é um mistério, parece o paradoxo perfeito, é loucura para os sábios, um escândalo imaginar, mas Ele é o Rei que troca o cetro pelo cajado, a glória pela simplicidade, o senhorio pela servidão e seu trono por uma cruz.

Com certeza você conhece o Salmo 23. Nele, há muitas verdades sobre Deus.  

“O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará. Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas. Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome.Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam. Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda. Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor por longos dias.”  Salmos 23:1-6 

Há algo diferente neste Salmo. Não porque é um dos mais conhecidos, mas porque ali vemos Davi cantando para si mesmo o que ele sabia sobre Deus. Imagino que esse salmo saiu de um lugar de muita intimidade e uma obra artística da relação dele com seu Criador. 

O que Davi nos ensina das verdades sobre Deus

Nele, Davi não pede, não lamenta, não intercede, não fala sobre si… Apenas sobre o bom pastor. Davi estava cantando para si as verdades sobre Deus. 

Ao ler esse salmo, sabemos que para Davi, Deus era como um pastor, um provedor, aquele que proporciona descanso e renova suas forças e lhe ensina sobre justiça. E aquele que até nos momentos mais sombrios estaria ao seu lado, o protegeria e mesmo em meio ao caos seria abençoado com um banquete preparado pelo Senhor.

Davi sabia, com toda a certeza, que em todos os dias de sua vida, seria seguido pelo amor e pela bondade de Deus.

Imagine o coração apaixonado de Davi ao declarar para si essas verdades sobre Deus? Apenas a uma conclusão poderia chegar… Certamente era na presença do Senhor que ele habitaria para todo o sempre.

Como isso pode mudar sua vida?

No seu momento devocional, você já experimentou cantar ou orar salmos? Com o Salmo 23 é possível fazer uma oração de gratidão, adoração, entrega e de confiança. Há algo poderoso quando no seu lugar secreto, usando a Palavra, você declara à sua alma as verdades sobre quem Deus é. O resultado disso é um coração com a imagem de Deus profundamente consolidada. Isso é fundamental a vida cristã, pois nos momentos de dificuldade, desafios e turbulência você não tem suas crenças abaladas, porque elas estão bem fundamentadas nos atributos do caráter de Deus.

Cantar verdades sobre Aquele que é o “bom Pastor” também reflete na sua própria identidade. Quando a bíblia diz que somos a imagem de Deus, não se refere apenas a semelhança física, mas também às características do caráter de Deus em nós e ter essa certeza enraizada em seu coração muda como você se posiciona na vida. 

Precisamos dizer ao nosso coração que apenas Deus é tudo o que de fato precisamos, Ele é o provedor! Precisamos ter dentro de nós a certeza que mesmo em dificuldades, o próprio Senhor estará conosco. Se já temos Ele, então temos tudo!

Estamos vivendo um momento em nossa história em que a política é mal vista em todos os ambientes, ângulos e modos. Com o cristão não é diferente. De fato, diante de tantos escândalos e exposições da corrupção dos políticos de muitas nações (principalmente da nossa), isso não se torna uma surpresa. No entanto, essa realidade pode ser um pouco proveniente de nossa ignorância, visto que, precisamos compreender primeiramente que a política, em sua essência, não é má. De modo geral, a política é uma ferramenta de organização social, de adaptação de ordens, de leis e regras. É o modo de colocar as coisas em ordem de forma que uma sociedade, uma família ou qualquer que seja a instituição, funcione corretamente.

Espaços políticos

Possivelmente você discorde repentinamente ou até se assuste com essa informação, mas não há como viver em uma sociedade sem política. É isso mesmo! Na verdade, não temos a mínima condição de viver em uma sociedade anárquica, em que cada um vive como entende. E se tivermos a consciência das condições reais da humanidade, isso no mínimo nos daria o relance do caos sem dimensão que seria. Vou te dar exemplos práticos sobre algumas formas de política as quais não podemos simplesmente ignorar. Você participa de uma igreja onde, para tomar algumas decisões, se fazem assembleias? Você faz parte um grupo de convívio? Veja, isso é uma forma de política. Você mora em um condomínio onde existem reuniões para votação de decisões referentes ao lugar? Então, isso é política. Sua igreja apresenta uma divisão em departamentos, responsáveis por resolver questões e trabalhar em prol de um melhor funcionamento da instituição?  Simplesmente isso é política. 

Não há como viver sem política, mesmo em ambientes eclesiásticos. Logo, isso nos mostra que a política não é em si mesma má. Mas, então, você pode estar se perguntando: Há como fazer uma política boa? Sim! Sem dúvidas. A política está presente em nossas escolas, famílias, trabalho e em nossas relações. Então, administração política é imprescindível para nossa sociedade. 

Provavelmente você possa pertencer a grupos de pessoas que afirmam que: “política não é importante e nem boa porque não tem política na bíblia”. Isso é verdade? 

A política nas Escrituras

Quem falou que não tem política na bíblia? Vejamos.   

“Tu estarás sobre a minha casa, e por tua boca se governará todo o meu povo, somente no trono eu serei maior que tu.” Gênesis 41.40 “…por tua boca se governará todo o meu povo”.

Essas são palavras de Faraó a José, o qual se tornara governador ao seu lado em uma posição política. Há outros exemplos de posições políticas na bíblia como Daniel, que em seu tempo tornou-se um personagem importantíssimo na corte da babilônia e Ester, que se tornou uma ferramenta de Deus para salvar os Hebreus exercendo tal característica. Assim como o rei Salomão e o rei Davi, que também atuavam politicamente sobre seu povo, e historicamente Israel que esperava a vinda do Messias, o qual iria transformar a história com uma postura política. E sim, Cristo virá e terá uma posição política sobre toda a terra!   

Mas, então, qual seria o problema? A explicação consiste na má política e no jogo político como troca de favores, esquemas e a busca do autobenefício. Tudo isso, no entanto, expõe uma corrupção já contida no próprio coração. O erro não está em um cristão assumir posições políticas em seu município, cidade ou estado, e sim que, por conta dessa corrupção e de um sistema maligno dominante, a máquina pública praticamente “funciona” por si só, e um cristão ao entrar é levado ao jogo dominante.  Isso significa que não existe um político honesto? Não, porém, quando encontrado é considerado como um herói ou é visto com mais desconfiança ainda devido a tanto descrédito. 

O Cristão na política

O questionamento agora é: “Como um cristão deve se enquadrar no espectro político? O Cristão deve assumir uma posição política? Abraçar um partido? É… Isso nos obriga a uma fundamentação mais difícil e talvez mais polêmica: Cristo tinha uma posição política?

É absolutamente impossível esgotar esse assunto neste breve artigo, e existem muitas pessoas capacitadas cujas explicações são vastas sobre o mesmo. Não obstante, irei deixar aqui alguns pontos, os quais considero de extrema importância para a nossa reflexão sobre o tema: 

Um breve histórico

Primeiro: O significado de “política” na Palestina do 1º século é muito discrepante do nosso entendimento de política, pois a ciência moderna, tampouco a ciência política existiam. Ao invés de constituir uma das esferas da sociedade como experimentamos nos últimos séculos, a política antiga era integrada no sentido religioso da vida. Por exemplo, o Imperador César Augusto era o “pai” do Império, e o filho de Apolo para governar o mundo. No entanto, a palavra “kyrios” ou “senhor” captura bem todos esses sentidos e não é à toa que a primeira confissão da igreja foi “Jesus Cristo (e não César) é o Senhor”.        

Jesus foi perseguido e morto por uma trama de partidos inimigos, os fariseus, os quais eram uma seita apocalíptica e influente fora de Jerusalém, uniram-se com a elite do Templo (saduceus) e com os herodianos (pró-Roma) para incriminá-lo e matá-lo. Quando chegou a hora de ser preso, Jesus fez questão de deixar claro que sua práxis e objetivos não se enquadravam aos dos revolucionários zelotes (“quem levantar a espada, pela espada morrerá”). Alguns estudiosos tentam aproximar Jesus ao movimento Essênio, porém, não há base textual suficiente para tal afirmação. Jesus, portanto, incomodou a posição de muita gente, para não dizer, de todas as gentes, afinal, Ele não se enquadra em nenhuma caixa.

Jesus e o Reino de Deus

Segundo: A preocupação com os pobres, oprimidos e a centralidade para o cuidado com o vulnerável é simplesmente INEGÁVEL na vida de Jesus, dos primeiros apóstolos, da igreja primitiva e mesmo da patrística. Jesus, como representante da tradição profética (“o último dos profetas”, o filho de Deus em quem toda profecia e lei se realizaram), era incansável em apontar a bem-aventurança dos pobres, condenar o abuso das riquezas e insistir que os que tinham dividissem com quem não tinham. Jesus afirmava que o Reino de Deus é o lugar dos que abrem a vida e comunidade para os excluídos pelo sistema Imperial e pela elite do templo, até mesmo firme posição sobre questões sexuais e forma como essa questão era tratava em sua época (leia o Evangelho de Marcos 7). 

Terceiro: O tema central da sua pregação era “o Reino de Deus”, e infelizmente, em muitos contextos evangélicos, o entendimento consiste em “ir para o céu imaterial quando eu morrer”. Entretanto, o Reino de Deus, segundo a oração do Pai Nosso, é a pregação de que a realidade Divina está invadindo, redimindo e transformando nossa condição presente. 

Sinalizadores de um Reino

O termo Shalom (paz) era o alvo: toda a criação, todos os sistemas e toda a humanidade deveria funcionar em justiça, amor, equidade e responsabilidade. O mundo perdido de Gênesis não seria encontrado em uma volta para o jardim. E, sim, em uma nova cidade – uma nova pólis, que o próprio Deus estava inaugurando em Jesus. Portanto, se somos cidadãos da nova pólis, devemos viver de acordo com sua política.

Mediante à exposição de tais questões, como cristãos e discípulos de Jesus, precisamos transformar nossa mentalidade e compreender que hoje somos sinalizadores de um Reino que será estabelecido sobre toda a terra e que os cristãos necessitam se envolver com políticas públicas para um bem comum social, e antes de ingressar em uma carreira política, questionar a si mesmo se possui vocação para a área, e se está disposto a governar uma cidade e não uma ideologia, igreja e afins. Como cristãos, devemos exercer nossa cidadania com lucidez e firmeza, aplaudir o correto e suplicar sempre por um governo justo para toda a sociedade e não apenas para os seus grupos religiosos. 

Seguindo o conselho do apóstolo Paulo ao jovem Timóteo:

Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ação de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade.1 Timóteo 2:1,2

Não seja apenas uma voz de denúncia da injustiça, como também uma voz de súplica para os que governam. 

Deus te abençoe.

Falar sobre cultura é um grande desafio principalmente no meio cristão. A relação do cristão com a cultura sempre foi uma relação de tensões, dúvidas, convicções parciais e conflitos. A própria definição do termo ganha um sentido mais particular, dependendo da época em que ela é feita. Hoje, podemos observar que “cultura” é uma palavra bastante desgastada e ainda muito mal compreendida, com interpretações e nuances em cada contexto a que é aplicada.

Acredito que, enquanto vivermos “nesse mundo” ou nesse século – entendendo que essa é uma afirmação temporal e não uma divisão espacial, enquanto vivermos entre a encarnação e a parousia (o retorno de Jesus) esse será um problema na vida do cristão.  

Mas, o que é cultura? 

Em poucas palavras, são os hábitos, língua e vida artística cultivados em uma localidade ou nação: as histórias, os símbolos, a forma de política, as estruturas de poder, as estruturas organizacionais, o sistema de educação, os sistemas de controle, os rituais e rotinas, etc.  Tudo o que caracteriza a realidade social de um povo ou sociedade: valores, costumes, atitudes e crenças.

Para falar sobre o cristão e a cultura, precisamos lembrar que a igreja não nasceu em nossa geração. Precisamos ter um olhar humilde, examinando a história da igreja para ver como os cristãos do passado lidaram com a cultura.  

O teólogo H. Richard Niebuhr (1894-1962), dentro de sua pesquisa sobre o assunto, presenteou-nos com o livro Cristo e cultura. Nele, o autor apresenta cinco modelos de como os cristãos se relacionaram com a cultura ao longo da história. Até hoje, a pesquisa de Richard Niebuhr, a respeito desse tópico, serve como referência para teólogos, pesquisadores e para as igrejas, pois fornece ferramentas para descrever a forma que os cristãos encaram questões sociais, éticas, políticas e econômicas.

Precisamos entender que, quando o cristianismo surgiu, ele foi imediatamente convocado a enfrentar um difícil problema, pois os cristãos estavam imersos em um entendimento de realidade já existente e tinham sua própria forma de viver há tempos. Uma sociedade repleta de interesses intrincados já havia se formado – existia um Estado no qual seus cidadãos viviam; as artes e ciências tinham suas práticas desenvolvidas e eram elevadas em seu prestígio; costumes e hábitos sociais haviam assumido forma. Em suma, o Evangelho de Cristo encontrou uma rica vida natural, uma cultura altamente desenvolvida. 

Como relacionar-se com a cultura?

Em consequência, levantou-se a inevitável indagação sobre como ajustar as relações entre ambos. Será que os cristãos precisavam rejeitar tudo e viver como se tudo que estava nessa terra fosse uma obra do Diabo? É necessário criar uma cultura paralela, um universo à parte e tornar-se uma subcultura e contracultura radical? Ou ao invés disso abraçar sem reservas tudo como sendo bom, ignorando os aspectos da Queda e da idolatria humana? 

Acredite, todas essas indagações nos assolam até hoje, e ao olhar para a igreja evangélica no mundo é possível perceber que, de alguma forma, elas assumem uma dessas opções: ou tornam-se uma subcultura dentro de uma cultura, ou abraçam a cultura corrente a ponto de não mais observarmos um contraste de trevas e luz.

Mas será que existe uma maneira correta e saudável para essa relação com a cultura? Creio que sim, apesar de esse ser um grande desafio. Precisamos entender que os cristãos (homens resgatados pela obra redentora do Cristo), não foram resgatados do mundo para criarem um universo paralelo ou para abraçam as coisas como se “tudo” fosse bom, vivendo uma utopia. 

Contracultura

As palavras do Apóstolo Paulo aos Colossenses, de alguma forma precisam nos mostrar que a nossa relação com a realidade, deve repousar sobre esse conhecimento.  

“Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados.
Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação,
pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele.
Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste.
Ele é a cabeça do corpo, que é a igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a supremacia.
Pois foi do agrado de Deus que nele habitasse toda a plenitude,
e por meio dele reconciliasse consigo todas as coisas, tanto as que estão na terra quanto as que estão no céu, estabelecendo a paz pelo seu sangue derramado na cruz.”  – Colossenses 1:13-20

E agora? De fato, precisamos olhar para a realidade, como intérpretes dela, pois agora a ressurreição não é apenas uma “esperança” e sim uma realidade. Em Cristo, podemos ser contracultura – denunciando as perversões e distorções da cultura, por isso dizemos que “não somos do mundo”, mas estamos no mundo. Em Cristo entendemos que todas as coisas foram criadas por Ele e para Ele. 

Transformando a cultura

O cristão é um agente transformador da cultura, entretanto, ela deve ser levada cativa ao senhorio de Cristo, sem desconsiderar a Queda e o pecado, mas enfatizando que, no princípio, a criação era boa. Lá no princípio, logo após criar o homem, Deus deu a ele os mandatos criacionais (os mandatos espiritual, social e cultural):

E Deus os abençoou e lhe disse: sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.” – Gênesis 1:28

Do mesmo modo que, um dos objetivos da redenção é o anúncio do Reino de Deus, e a cultura não está fora desse Reino. A realidade da ressurreição é espiritual, cósmica e histórica, e a cultura não é algo externo a isso.  Sendo assim, por mais iníquas que sejam certas instituições, elas não estão fora do alcance da soberania de Deus. Ou seja, mesmo sabendo da queda – que não pode ser ignorada, o cristão não abandona a cultura, mas denuncia a falsa cultura e a distorção da mesma. Ele busca sinalizar do reino de Deus, discernindo e comunicando dentro da cultura a famosa tríade transcendental: o bom, o belo e o verdadeiro. Levando a cultura aos pés de Cristo, faz com que a fé, a esperança e o amor estejam em harmonia com a vida daqueles que testemunham o Reino de Deus e toda a sua realidade. Reino de Deus não é utopia!

Dicas

Se você deseja ir mais profundo ao assunto, segue uma lista de livros para auxiliar.  Boa leitura! 

    • H. Richard Niebuhr – Cristo e Cultura 
    • Michael Horton – O Cristão e a Cultura 
    • D. A. Carson – Cristo & Cultura: Uma releitura
    •  Comissão de Lausanne – O Evangelho e a Cultura
    • Andy Crouch –  Culture Making
    • David Platt – Contracultura

O reino de Deus é eterno e Ele é imutável. Pense um pouco sobre essa frase. Entender e saber disso nos traz segurança e paz. Então, primeiramente, vamos entender como esse aspecto de providência de Deus acontece.

Para proclamar aos filhos dos homens os teus feitos poderosos e o glorioso esplendor do teu reino. O teu reino é um reino eterno; o teu domínio dura por todas as gerações.(Salmos 145: 12-13)

Deus, o Filho e o Espírito governam juntos 

Deus, como eterno e imutável Criador de todas as coisas, é também Aquele que sustenta, rege, governa e preserva sua criação. Por isso, pensar em providência divina é pensar na ação contínua de Deus através da qual Ele preserva a sua criação, conduzindo-a aos propósitos reservados para ela.

Contudo, não estamos falando só de Deus Pai mas também do Filho e do Espírito, ou seja, da Trindade em si, conforme todo o capítulo 1 de Colossenses ou então como Hebreus 1:3 diz que o Filho é o esplendor da glória do Pai e sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder. Jesus sempre foi Deus (Jo 1:1; Cl 1:15; Hb 1:15) e Ele sempre possuiu toda glória e louvor no céu, assim como o Pai e o Espírito Santo, Ele sempre reinou sobre o universo. Para compreendermos melhor isso. Vamos ler essa citação de F.F. Bruce:

“Não existe a questão de Cristo tentar arrebatar, ou apoderar-se da igualdade com Deus: ele é igual a Deus, porque o fato de ele ser igual a Deus não é usurpação; Cristo é Deus em sua natureza. Tampouco existe a questão de Cristo tentar reter essa igualdade pela força. A questão fundamental é, antes, que Cristo não usou sua igualdade com Deus como desculpa para auto-afirmação, ou autopromoção; ao contrário, ele a usou como ocasião para renunciar a todas as vantagens ou privilégios que a divindade lhe proporcionava, como oportunidade para auto-empobrecimento e auto-sacrifício sem reservas.”

Então, quando falarmos sobre Deus, pense na ação da Trindade.

Deus tem decretos para a sua criação, ele tem o plano da redenção, cada coisa vai acontecer para o seu propósito,  por isso é imutável. Ele mantém tudo existindo e funcionando. Cristo por meio da sua palavra está sustentando todas as coisas. (Cl 1:17 e Hb 1:3) .

Deus preserva Seu reino eterno

“Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas? E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura? E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam; E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé?” Mateus 6:26-30

Portanto, ao lemos essa passagem, vemos como Deus sustenta e preserva Toda a criação, a natureza e  principalmente as nossas vidas.

Sendo assim, Deus está nos preservando à Vontade Dele. Acordamos e dormimos porque Ele está nos guardando. Esse é o governo Eterno Dele, ele está dirigindo toda história. “O reino de Deus e a Sua justiça” faz provisão para cada detalhe de nossas vidas (Mt. 6:31-33). Nossa confiança e chamado está incluído no cântico maravilhoso, que “os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre” (Apocalipse 11:15).

Vamos ver alguns exemplos:

“Deus governa a natureza para seu propósito;” Salmos 135:6-7

“Ele controla as estações da natureza mas também os reis e o rumo das nações. Está sob seu controle os reinos da terra;” Daniel 2:21

“Deus afirma que Ele fará tudo o que lhe agrada, seu plano será cumprido. Ele chamará tanto a natureza, ao citar a ave de rapina, quanto o homem. Esse versículo nos mostra como Deus é fiel em sua palavra.” Isaías 46: 10-11

Seguros  em um Deus eterno e imutável

Dessa forma, ao pensarmos que os reinos vêm e vão, e que poderes caem, que o governo Dele nunca passará e nem mudará, torna nossas vidas seguras. E Ele é bom em seu governo. Deus é soberano e imutável, não está abaixo de leis e normas, Ele faz o que quer. Por isso podemos confiar e nos submeter a Ele. Pois é imutável, eterno e constante. Nele está toda a segurança que tanto buscamos para as nossas vidas. Creia que Deus está cuidando e preservando sua vida, para Os propósitos Dele.

Nesse sentido, Paulo ensina: “Porque convém que reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus pés”, concluindo com a derrota da própria morte na ressurreição geral (1Co. 15:25- 26). Todas que se opuserem, serão sobrepujados pelo Rei. Jesus Cristo ensinou Seus discípulos a orar: “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt. 6:10). Essa oração é uma lembrança contínua a nós que a vinda do reino significa fazer a vontade de Deus, e que o reinado de Cristo (Seu reino) por meio da nossa obediência chega precisamente aqui sobre a terra. O Salvador ressurreto e vitorioso disse de Si mesmo: “É-me dado todo o poder no céu e na terra” (Mt. 28:18).

Por fim, saber que Ele é um rei Eterno nos faz caminhar confiante de que nEle nós veremos o cumprir de todas as suas palavras, pois Ele é fiel e imutável.

“Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” Tiago 1:17

 

Você já pensou sobre ouvir o som da voz de Jesus? Eu já. Ao som da voz dEle, ouvi A verdade. E quero  conversar com você sobre isso. Mas, também quero falar sobre outras vozes que ouvimos.

Sabe aquelas mentiras que passamos quase que a vida inteira ouvindo?  Essas que entram tanto em nossa mente e que viram nossas próprias mentiras? Não é à toa que lemos no Salmos 120 o salmista dizendo: “Senhor, livra-me dos lábios mentirosos”. E aqui, quando ele diz: “lábios mentirosos”, quer, de fato, dizer que haviam pessoas falando falsas coisas contra ele. E como isso faz mal, não é mesmo?

Assim, como o salmista relata, essas situações nos causam angústias e todos nós passamos por isso. Quantas vezes chegamos a crer nessas mentiras como se fossem verdades sobre nós. Mas, como conseguir sair dessa prisão? A Bíblia diz em João 8: 32:

E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará…

Essa verdade está expressa na Palavra de Deus

Quero seguramente te dizer, que sim, essa verdade nos liberta. Jesus disse que Ele é o Caminho,ou seja, não há muitos caminhos para Deus, Ele disse que é a verdade – a verdade não é relativa ou mutável. Há somente um ser eterno que é a verdade, o Novo Testamento identifica Cristo como esse logos. E Ele também disse que é a vida – todas as outras opções levam então, a butik morte. E conhecê-lo fará você adquirir  os  tesouros eternos que estamos juntando nesta Era. Sim, a vida eterna é conhecê-lo.

E a vida eterna é esta: que conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, que enviaste. João 17:3: 

Ouse ouvir o som da voz Dele por meio das escrituras e deixe essa verdade sobre quem Ele é transformar sua forma de pensar e de viver . Qual a melhor maneira de sermos livres, se não O conhecendo por meio das Escrituras? E aqui, eu quero te incentivar a estudar, ler e interpretar a Bíblia. Ela  não é um livro onde você vai ler de vez em quando. É um livro que você lerá a vida inteira.

Crescendo na verdade em humildade

O conhecimento implica em nosso crescimento espiritual.  E precisa estar acompanhado de humildade e obediência, como diz Tiago:

Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência. Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar (Tiago 1.22-25).

Assim, à medida que lemos e estudamos com entendimento e humildade as Escrituras, vemos como ela é uma expressão da mente de Deus, ela nos conduz ao pensamento de Deus e a  pessoa de Cristo. Pois Jesus é Tudo o que precisamos. Deixe a verdade sobre Ele, trazer luz a quem você é. Assim você verá o medo sendo dissipado e dando lugar a segurança da promessa de adoção encontrada em sua  Palavra.(Romanos 8:15-16).

Agora reflita comigo: Se Cristo é a verdade que nos liberta, Ele está nos libertando do quê exatamente? Bom, se pensarmos que sem Ele, sem a verdade sobre O Filho de Deus, descrita na palavra, nós estaríamos mortos em nossos medos, inseguranças, no nosso ódio,  inveja e desavenças. Concorda? Os corações que não estão cheios do amor de Deus, permanecem nessa morte e desespero. Assim como nós, antes de sermos cercados por tão grande revelação de sua graça, por meio de Jesus Cristo. Agora somos cobertos por essa tão grande graça.

Agora sim, podemos ouvir o som da Sua Voz

Sendo assim, ao lermos as Escrituras somos abertos ao Espírito Santo, pois  Ele nos ensinará todas as coisas. Por isso, precisamos estar sempre em oração, para que a verdade contida nas Escrituras transforme nossa mente e coração a fim de sermos libertos, de não mais dar ouvidos a outras vozes cheias de mentiras.

Ore pedindo ajuda e a assistência do Espírito Santo para trazer por completo diante de sua mente e sua vida a verdade sobre Jesus, expressa na Bíblia. Talvez ao meditar sobre algum texto, você queira transformá-lo em uma oração ou uma canção. Assim a palavra de Deus falará dentro de você, não apenas com você, e assim fé crescerá em seu interior.

Portanto, não se apresse quando estiveres nessa jornada. Deixe cada etapa desse crescimento forjar em você a verdade do Filho de Deus. Essa é a voz que você precisa ouvir. Quando nossa mente entra em acordo com a verdade expressa no texto que estamos meditando, podemos entender e conhecer como Deus fala ainda hoje com seus filhos. É por essa voz que ele revela os segredos mais profundos dos nossos corações. Nenhuma outra voz vai tão profundo quanto a voz de Deus que podemos ouvir pelas Escrituras.

Desvenda os meus olhos para que eu contemple as maravilhas da tua lei (Sl 119:18).

Em tudo dai graças

Por isso hoje, quero te fazer levantar os olhos ao céu e agradecer a Deus por essa tão grande maravilha que é podermos através da Bíblia:ouvir o som da voz de Deus, de Jesus com maior força, maior glória, maior certeza, maior doçura, maior esperança, maior orientação, maior poder transformador e maior verdade do que se pode ser ouvida em qualquer voz humana no mundo, fora da Bíblia. Podemos receber essa verdade e entregar todos os nossos medos, problemas, argumentos e tensões de nossas vidas a Deus. Confiando nele para obter um resultado que mostrará a todos que estão observando que o Senhor cuida daqueles que confiam nele e os faz livre, para viveram em verdade.

Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade. João 17:17.