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O valor da alma – parte 3

Estudo Bíblico

Quando nos tornamos cristãos, o Senhor nos dá um novo coração. Então, o que antes era um coração de pedra, morto para as coisas de Deus, agora se torna um coração de carne, vivificado (Ez 36:26). Junto com este presente, recebemos também um mandamento: cuidar e zelar por este novo coração.

É importante cuidarmos do nosso coração, isto é, da nossa alma — o lugar onde residem nossos anseios, desejos e impulsos. Embora seja Deus aquele que cuida do nosso coração, existem práticas que nós, juntamente com a obra do Espírito Santo, precisamos ter em nossas vidas. Além disso, é responsabilidade e dever de todo aquele que se torna um cristão.

O processo da vida cristã

O pensador, John Flavel, afirmou que “a maior dificuldade na conversão é ganhar o coração para Deus; e a maior
dificuldade após a conversão é manter o coração em Deus”. Ou seja, a salvação não se trata de um momento específico somente – ela é desenvolvida com zelo ao longo da vida.

Como um instrumento musical que, de tempos em tempos, precisa ser afinado, assim também o coração precisa ser ajustado para que não emita “canções desafinadas” para o Senhor. Existe o potencial para coisas ruins em nosso coração, e é necessária uma análise constante para que o som que emitimos a partir dele seja um som agradável a Deus. Para isso, temos o Espírito Santo dentro de nós que é capaz de nos guiar neste processo de alinhar e reposicionar o coração.

As fontes de vida vem do coração; é a vida do próprio Deus fluindo de dentro de nós. Se essa fonte estiver bloqueada, não há como usufruirmos das bênçãos que ela pode trazer.

Como cuidar do nosso próprio coração?

Vigie cuidadosamente o seu coração. Jesus nos diz para vigiar e orar para que não entremos em tentação (Mt 26:41).

Visto que seguir Jesus não é uma experiência circunstancial. A obra completa do Espírito Santo acontece quando olhamos para dentro de nós mesmos e submetemos o nosso coração a Ele. Assim, ocorre a conversão e uma renovação de mente, uma metanóia.

Ninguém está em posição melhor para cuidar do nosso coração do que nós mesmos. Portanto, é necessário estarmos atentos aos impulsos da alma que tem a tendência de nos afastar de Deus: sentimentos como medo, orgulho, ganância, autocomiseração, ressentimentos etc.

O ímpeto do pecado sempre começa no coração. Ignorar os alertas do Espírito de que impulsos carnais estão urgindo em nossa alma é caminhar rumo à queda e a um colapso moral.

Confessar após investigar o que se passa em nossa alma (Salmos 139:23-24).

A confissão sempre vem em primeiro lugar. O Senhor irá nos ajudar, a partir do momento em que formos honestos a respeito de nossos erros e pecados. Um coração contrito que percebe e admite suas falhas, que se volta para Deus e confessa seus pecados, é capaz de alcançar o perdão do Senhor (1 João 1:9).

A cada alerta, para cada impulso carnal, temos que nos comprometer a mudar essa realidade em nossa alma. Isso acontece quando renunciamos ao pecado e o substituímos pela paixão e fascínio por Jesus; quando tornamos Jesus um objeto de adoração mais valioso aos nossos olhos do que o pecado. É assim que o crescimento cristão acontece: identificamos as áreas da vida que precisam de ajustes.

A alegria da salvação

A alegria da salvação vem sobre aquele que se separa das coisas do mundo e torna o pecado algo odiável em sua vida. Cristo se torna amado por ele; a verdade é valorizada e os erros, abandonados.

Podemos confiar na obra do Espírito Santo — Ele é o maior interessado em cuidar do nosso coração. Jesus nos oferece uma fonte de vida que desbloqueia nosso coração; através desta fonte, a vida de Deus começa a fluir de dentro de nós.

Chamando a multidão com os discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser preservar sua vida, irá perdê-la; mas quem perder a vida por causa de mim e do evangelho, irá preservá-la. Pois que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida?
Ou, que daria o homem em troca da sua vida? Mc 8:34-37

O valor da Cruz

A nossa alma possui um grande valor; ela é preciosa. Mas existe uma forma de preservá-la e uma forma de perdê-la. Jesus enfatiza o valor e a necessidade da alma ser preservada.
A maior tragédia é viver crendo que a salvação é conquistada por méritos pessoais ou por meio de uma falsa fé. Isso ocorre devido a distorções da Palavra que podem nos enganar a respeito da nossa saúde espiritual:

“Jesus já morreu por mim, então estou bem, independente de como eu viva.”

Esta declaração é uma distorção que leva a uma perda eterna. De fato, Jesus morreu por você. Ele suportou o
castigo da justiça divina em nosso lugar; o castigo que nos trouxe a paz estava sobre Ele (Isaías 53:5).

Porém, não há perdão sem arrependimento e sem mudança de vida. Há um motivo para o qual Cristo se entregou por nós: para que morramos para o pecado e vivamos para a justiça (1Pe 2:24-25). Jesus morreu por nós, pecadores, para que houvesse uma mudança; Ele carregou os nossos pecados para que hoje possamos morrer para o pecado.

“Deus não prometeu perdoar um pecado que você não está disposto a abandonar.”

Andando em submissão

Matthew Henry afirma que “nenhum homem pode confiar com segurança em Cristo tendo suportado seu pecado e expiado sua culpa, até que morra para o pecado e viva para a justiça”.
Não se trata de merecimento, mas de posicionamento. Não há nada que você possa fazer para merecer a salvação, mas há muito que se possa fazer para se posicionar diante de Deus, que lhe oferece a salvação.

“Houve um dia em que eu confessei Jesus, então agora já está tudo garantido.” Esta é outra leve distorção que pode se tornar uma verdade para muitos. Ser cristão é mais do que apenas afirmar que Jesus morreu pelos seus pecados. Ser cristão é mais do que acreditar no Salvador que morreu; é submeter-se ao senhorio de Jesus, oferecer-se a Ele em total devoção. Além disso, é uma entrega voluntária de si mesmo nas mãos deste pastor.

“Eu estou numa jornada espiritual”. Novamente, esta é uma distorção perigosa porque contém uma verdade, a de que nós todos estamos numa jornada de fé. Porém, tal jornada não levará à salvação se nessa caminhada não formos confrontados e exortados pelo Senhor.

O bom Pastor

A caminhada cristã começa em um definitivo retorno ao senhorio de Jesus: retornar a submeter-se e colocar sua vida debaixo da direção desse Pastor. Se hoje você não está sob a direção do Pastor da sua alma, você é uma ovelha perdida, desgarrada e confusa.

Existem duas coisas que podem acontecer com a nossa alma: ou nós a submetemos ao senhorio de Jesus, ou nós a perderemos. Nenhuma pessoa que vem a Ele será rejeitada; nenhuma alma que for confiada a Jesus se perderá. Deus não resiste a um coração quebrantado e humilde.

“Chamando a multidão com os discípulos, disse-lhes:
Se alguém quiser vir após mim, negue a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.
Pois quem quiser preservar sua vida, irá perdê-la;
mas quem perder a vida por causa de mim e do evangelho, irá preservá-la.
Pois que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida?
Ou, que daria o homem em troca da sua vida?” Mc 8:34-37

A alma é basicamente a sua identidade; trata-se de quem você realmente é. É a sede da memória, das emoções e sentimentos, das convicções e medos. Por que é importante cuidar da alma e por que é importante estarmos alertas a respeito do que a afeta?

Sua alma é importante porque foi soprada em você por Deus (Gn 2:7).

Não somos apenas formados do pó, mas temos o sopro de vida do próprio Deus fluindo em nós e isso nos distingue de toda a criação. A nossa alma tem a capacidade de conhecer Deus e se relacionar com Ele.

Sua alma é importante porque é a fonte de todas as suas realizações.

A inspiração artística vem da criatividade soprada por Deus; as explorações científicas nascem da necessidade de buscar conhecimento; as conquistas esportivas nascem da determinação. Tudo aquilo que realizamos parte de uma motivação nascida na nossa alma.

Sua alma é importante porque é a fonte de todos os pecados (Tg 1:14; Mc 7:21-23).

Somos seres destituídos da glória de Deus que aguardam o dia da bendita redenção dos nossos corpos. Até que chegue esse dia, travaremos uma luta contra a tentação que vem do mundo e contra os desejos pecaminosos que surgem em nossa alma.

Sua alma é importante porque ela vai durar para sempre (Mt 10:28).

Nossa alma é imortal e viverá além do nosso corpo. Por isso devemos temer aquele que possui o poder de determinar o futuro da nossa alma, o Senhor Deus.

Sua alma é importante porque ela irá experimentar alegria eterna ou miséria eterna (Lc 16:22-23).

Não há nada mais desastroso do que perder sua alma (Mc 8:35). Devemos analisar as motivações que nos levam a ser quem somos e a seguir o caminho que seguimos, aquelas motivações que só o Senhor pode ver, para que cheguemos ao fim da nossa carreira tendo a convicção de que para nós foi reservada uma coroa de justiça (2 Tm 4:8).

Como podemos preservar nossa alma?

Cuidando de alimentar não somente o corpo físico, mas alimentar a alma. A Palavra de Deus é o que sustenta a alma (Mt 4:4) e a ela deve ser dada importância ainda maior do que damos para a comida física.
Esteja atento ao seu compromisso com Cristo. O conforto da vida pode ser sutil e enganoso, e dar a falsa impressão de que está tudo bem, porém não viveremos apenas do mantimento armazenado para a vida terrena.

Outra maneira de perder a alma é permitindo que ela seja sufocada pelas preocupações e o desejo pelas coisas deste mundo (Mc 4:19). Devemos viver tendo a mentalidade de que não pertencemos a este mundo; logo, os seus valores e princípios não são os nossos (1 Pe 2:11).
“O primeiro passo em direção ao céu é descobrir o valor da sua alma”. A alma é salva quando nossa vida é entregue ao senhorio de Jesus Cristo.
O discipulado de Jesus trata-se de olhar para a própria vida e não tê-la como valiosa para si mesmo. É necessário morrer para si e viver para Cristo.

É libertador saber que Jesus nos oferece a paz de Deus de modo que simplesmente a recebemos pela fé. O mérito e a tentativa de convencermos a Deus não é necessária. Na verdade, ele nos dá sua paz sem nos cobrar algo em troca.

Como Cristo é a própria revelação de Deus no mundo, a paz de Cristo é a paz de Deus, conquistada na cruz para partilharmos da comunhão com Ele.

Paulo alerta os gálatas sobre quem eles eram em Cristo e para os lembrarem de que eram filhos da promessa por meio da fé. E que somente por isso eles tinham acesso a frutos que não provinham de seu mérito, mas eram gerados pelo próprio Deus. E um deles é a paz.

 

Paz como fruto do espírito

Os gálatas viviam tristes, porque estavam voltando às obras da lei e da tradição judaica. O apóstolo Paulo estava relembrando que, assim, eles estavam voltando à vida passada, quando viviam sem Cristo e buscavam serem justificados pela esperança em si mesmos. 

Continuar praticando a lei era o mesmo que ignorar a obra sacrificial de Cristo na cruz. Com isso, o amor e a graça providenciais que lhes davam o presente de serem chamados filhos era desprezado.

Essa guerra na qual estavam vivendo era proveniente do falso evangelho que viviam. Isto, porque, falsos mestres ensinavam a igreja a uma esperança falha e terrena.

A paz que Paulo pregava aos gálatas sobre o fruto do espírito, era a paz de Deus proveniente da liberdade em Cristo, de um caminho livre até Deus.

Aqueles que viviam a esperança no que Cristo fez poderiam viver uma vida de liberdade e desfrutar da paz com Deus e com o próximo, uma paz que o mundo não dá.

“Eu lhes deixo um presente, a minha plena paz. E essa paz que eu lhes dou é um presente que o mundo não pode dar. Portanto, não se aflijam nem tenham medo. João 14:27

 

A paz que o mundo não dá

A paz que temos hoje é valiosa e abundante e, certamente, é o consolo que o mundo precisa. Em Cristo temos a paz que o mundo não tem.

Isto só é possível para pessoas que vivem a liberdade em Cristo, ou seja, a esperança na obra suficiente e salvadora de Jesus.

Esta paz não pode ser comprada, mas é dada generosamente. Esta paz é a certeza eficaz do próprio evangelho. Este é o evangelho da paz que o apóstolo Paulo também comunicou aos efésios quando falou sobre a armadura de Deus.

Esta paz é valiosa, porque a recebemos com muito sacrifício. Não um sacrifício que nós empregamos, mas um favor generoso, pelo qual não poderíamos retribuir a Deus.

Os efésios precisavam ter em mente os calçados do evangelho da paz para se lembrarem de que onde eles iam, a verdade e a esperança de Cristo estavam neles.

Se temos paz hoje é porque Cristo, sendo perfeito, sofreu a morte de um pecador, se entregou em obediência para nos oferecer tudo o que Ele tem, todas as bênção espirituais nas regiões celestiais em Cristo.

 

Temos paz com Deus no mundo

Temos a paz de Deus que o mundo não consegue nos dar, porque por meio de Jesus temos comunhão e amizade com Deus. Não somos mais seus inimigos, não vivemos mais como insensatos, mas como sábios e tementes a Deus.

Termos um Pai que é Criador do universo, que morreu por nós e que continua nos orientando e conduzindo as nossas vidas à semelhança de Cristo nos leva a viver com sabedoria nesta Terra.

Podemos dormir descansados depois de um dia de trabalho e de esforço, porque temos alguém que trabalha por nós. Podemos esperar pelo amanhã, porque ele é fiel para prover o pão de cada dia e as oportunidades. 

“Tu conservarás em perfeita paz aquele cujo propósito é firme em ti, porque ele confia em ti”. Isaías 26.3

Podemos entregar todas as nossas ansiedades a ele, porque Ele cuidará de nós. Não precisamos viver com pressa nem com medo, porque Ele é o dono do tempo, das estações e por isso podemos ser fiéis a sua vontade. E não podemos acrescentar uma hora sequer ao nosso dia, mas ele sabe de todas as coisas e nos dará a provisão que precisamos.

“Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus.” Filipenses 4:23

 

Você sabe exatamente o que significa viver em mansidão? Diante das injustiças que sofremos, afinal, o que a Bíblia nos ensina sobre ser manso? 

“Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.” Gálatas 5:22

Mansidão é um dos aspectos do Fruto do Espírito descrito em gálatas 5:22. É uma virtude que está relacionada diretamente com domínio próprio, benignidade e paciência, aspectos já abordados nessas semanas em nossa série

Mansidão: uma obra do Espírito Santo

Um dos significados do dicionário bíblico para o termo mansidão é gentileza, bondade e humildade. 

Porém, erroneamente muitas pessoas podem confundir que ser manso está relacionado a ter uma personalidade mais tranquila e serena. Mas, mansidão descrita como parte do Fruto do Espírito, só pode ser uma obra do Espírito Santo em nossa vida. A mansidão não pode ser produzida por um mero esforço humano. 

Definitivamente, só podemos ser mansos a partir de um coração regenerado e transformado pelo Espírito Santo. 

Um coração livre de ofensa 

“Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.” Mateus 11:29

Observamos a vida de Jesus e podemos aprender com seu testemunho. Ele foi manso e humilde, mesmo diante dos sofrimentos e na iminência de sua morte. Ele respondeu as injustiças cometidas pelo seus algozes com mansidão, pois Cristo temia e queria obedecer a vontade do Pai.  

Outro conceito errado sobre ser manso é achar que não devemos reivindicar ou buscar por nossos direitos. Entretanto, isso é legítimo. Porém, devemos escolher o caminho da mansidão e o conselho da Palavra, ao buscar por tais direitos. 

Como ensina o famoso autor John Stott, a mansidão é termos a atitude de humildade que Cristo tem. 

Não há melhor momento do que esse que estamos vivendo, para aprender a termos um coração manso. Um tempo cheio de incertezas em que nossos planos foram frustrados e refeitos. 

Até nesses momentos, em que o coração pode entrar em um lugar de ansiedade, você tem escolhido a mansidão? 

Mansidão e a liderança perfeita de Cristo

Visto que ser manso não é somente tratar as pessoas a nossa volta com amabilidade e humildade. Mansidão também é, mesmo quando todas as situações fogem ao nosso controle, escolhemos nos render humildemente ao Senhor. Aceitar a sua forma de liderar a nossa vida e as circunstâncias ao nosso redor. Pois, Ele é o bom Pastor.

Durante esses meses de pandemia me vi cercada por medo, muitas vezes. E eu não tive outro caminho a não ser me render e confiar no caráter imutável de Cristo. E na obra que Ele está realizando em meu coração, e nos corações dos que estão ao meu redor.

Tenho aprendido que os mansos são aqueles que humildemente confiam inteiramente em Deus, mais do que em suas próprias forças, para defendê-los contra toda injustiça. 

Não se preocupe: o Pai está comprometido em nos tornar pessoas de coração manso. Hoje, ore e peça ao Senhor que ajude você a ser obediente e submisso à liderança e a vontade do Pai, assim como Jesus foi aqui na terra. Pois lembre-se:   

“Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.” Mt 5:5 

Quando pensamos em paciência podemos visualizar cenas típicas no nosso cotidiano que nos exigem o exercício desta virtude. Quem nunca precisou esperar longas horas em uma fila ou esperar um ônibus que nunca chega? Ou talvez a dificuldade não seja esperar por algo ou alguém, mas não ser rápido em responder de forma grosseira ou irada em uma discussão ou conversa. Ao observamos a origem da palavra usada por Paulo em sua carta aos gálatas (Gálatas 5:22), entendemos que há um ensinamento muito mais profundo.

A paciência e a ira

As associações rápidas que fazemos tem um motivo. A palavra paciência, cujo sinônimo (longanimidade) talvez trave algumas línguas, significa literalmente “longo ânimo”. Em suma, ela origina da mesma raiz da palavra ira, sendo o seu direto oposto nos textos bíblicos. Inclusive, ela se encontra alguns versículos para trás, quando Paulo menciona as obras da carne. 

A ira dos homens é aquele sentimento intenso e rompante – o que conhecemos como “pavio curto”. Assim, é o desejo por dar uma resposta à altura, ter sua honra ferida ou não sofrer os danos. A paciência é a virtude de suportar o sofrimento, a humilhação ou a desonra por um longo tempo. É ser tardio em irar-se e não retribuir imediatamente. É evidente que, como humanidade, nosso ânimo é finito e frágil. Dessa forma, paciência só pode ser gerada em nós por aquele que é eterno e infinitamente paciente.

Um atributo de Deus, visto em Jesus

Em Jesus temos o homem perfeito, que suportou todos os tipos de sofrimento até o fim. Mesmo sendo Deus, não se considerou igual a Deus e se humilhou. Foi desonrado pelo seu próprio povo para que se cumprisse os propósitos da sua primeira vinda. Mesmo se perguntando “até quando estarei com vocês e terei que suportá-los?” (Lucas 9:41), Jesus foi obediente e exerceu a paciência ao levar o plano de seu Pai até o fim.

Deus, ao se apresentar a Moisés, diz ser cheio de paciência (Êxodo 34:6) e continuou a demonstrá-la por toda a história do povo de Israel. Mesmo em meio à constante desobediência do seu povo, Deus foi fiel em todas as suas promessas. E assim Ele cumpriu cada uma delas e continua tendo paciência conosco para cumprir o seu plano até o fim (2 Pedro 3:9).

O paradoxo da paciência

A dificuldade que temos, como humanidade, de exercermos paciência uns para com os outros, reflete nossa ofensa contra o próprio atributo de Deus. Em síntese, é o paradoxo de pensar que sabemos mais do que o próprio Deus sobre quando e como Ele deve exercer a sua justiça.

Ainda que tenhamos sido salvos por esta mesma paciência, muitas vezes não a estendemos ao nosso irmão. Pior ainda, ficamos irados com Deus por fazê-lo. Nos ofendemos com a ideia de perdoar setenta vezes sete e termos de aguardar o juízo eterno de Deus. Ainda que seja justamente esta misericórdia, que se renova a cada manhã, a causa de não sermos consumidos. 

Quantas vezes agimos como Jonas, que mesmo experimentando da paciência de Deus para com a sua própria vida, se ira por Deus ter sido misericordioso com a cidade de Nínive? Assim, diante de sua queixa, Deus apenas responde: “Você acha que é razoável essa sua raiva?” (Jonas 4:1-4).

Com paciência esperamos

Que sejamos aqueles que serão encontrados esperando pacientemente a justiça perfeita do Senhor. Não nos distraindo com o mal presente nesta era, mas mantendo nossos olhos fixos na esperança. Alguns podem dizer que a espera é insuportável ou se perguntar “até quando?” e querer fazer justiça pelas próprias mãos. Mas o Espírito Santo nos capacita a perseverar e aguardar pacientemente a volta do nosso Senhor, sabendo que há uma data marcada para que Deus retribua toda a injustiça e cumpra a sua promessa.

E desejamos que cada um de vós mostre o mesmo esforço dedicado até o fim, para a completa certeza da esperança, para que não vos torneis indiferentes, mas sejais imitadores dos que herdam as promessas por meio da fé e da paciência.” (Hebreus 6:11-12)

 

Para continuar lendo a série sobre o fruto do Espírito, clique aqui.

Alegro-me muito no Senhor, por terdes finalmente renovado o vosso cuidado para comigo, do qual na verdade estáveis lembrados, mas vos faltava oportunidade. Não digo isso por sua causa de alguma necessidade, pois  já aprendi a estar satisfeito em todas as circunstâncias em que me encontre. Filipenses 4:10,11 

Nós, que cremos em Cristo Jesus, estamos sendo transformados pelo Espírito Santo em cada etapa da vida. Essa transformação gera em nós uma metanoia na forma como vemos e manifestamos características que fazem parte do Criador e que são compartilhadas conosco. 

Hoje gostaria de propor uma reflexão acerca de uma dessas características, o fruto do Espírito: alegria. Um sentimento que nos molda a uma vida em um estado de contentamento em toda e qualquer situação.

A Alegria que se manifesta no caos 

Talvez neste ano de 2020, muitos de nós tínhamos feito planos e planejamentos detalhados de como seriam nossos dias futuros. Entretanto, fomos surpreendidos pelo inesperado. E o que podemos aprender com o caos, que talvez tenha se tornado a  vida de muitos de nós, é que devemos sempre nos alegrar por tudo aquilo que o Senhor já construiu em nossas vidas. Por tudo que Ele realiza em cada dia que acordamos e abrimos os nossos olhos, e nos possibilita a estar com vigor para continuarmos a ser co-participante da história que Ele está escrevendo. 

Muito embora possam existir dias difíceis, na qual encontrar a alegria pode ser uma tarefa muito difícil, podemos trazer a nossa memória aquilo que nos dá esperança para sorrir e encontrar a paz que há no meio do caos.  

Mesmo não florescendo a figueira, não havendo uvas nas videiras; mesmo falhando a safra de azeitonas, não havendo produção de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral nem bois nos estábulos,ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação. Habacuque 3:17,18

A Alegria que vem do alto 

O maior segredo que podemos encontrar em estarmos alegres em todos os momentos é descobrir que o único capaz de fornecer essa alegria é o Senhor e a Sua Palavra. Portanto os prazeres momentâneos e passageiros como bens materiais, casas, carros e tudo aquilo que de certa forma preenche o nosso coração, no lugar que deve ser somente dEle, não podem fornecer alegria eterna. Por isso, é necessário que estejamos com os olhos fixos naquele que nunca nos decepciona, que não muda e que nos ama. Ele deve ser suficiente para gerar alegria em nossos corações.

Os que olham para ele estão radiantes de alegria; seus rostos jamais mostrarão decepção. Salmos 34:5

A Alegria que gera esperança 

Onde há o amor verdadeiro haverá também a alegria. Ela não é passageira, é uma alegria que traz esperança e ansiedade pela volta do amado das nossas almas. Como uma noiva se preparando para casar, por mais que hajam dificuldades para que o grande dia se concretize de forma perfeita, ela em nenhum momento deixa de se alegrar. Pois ela sabe que o casamento acontecerá. Assim  também devemos ser, nos apegando a sua Palavra que nos diz que em breve Ele voltará para nos buscar, para o Grande Dia, e este deve ser o motivo suficiente para nos tornar alegres em todas as circunstâncias.

“Não se perturbe o coração de vocês. Creiam em Deus; creiam também em mim. Na casa de meu Pai há muitos aposentos; se não fosse assim, eu lhes teria dito. Vou preparar-lhes lugar.E se eu for e lhes preparar lugar, voltarei e os levarei para mim, para que vocês estejam onde eu estiver. João 14:1-3

Enfim que possamos de fato nos alegrar mesmo em meio ao caos, sabendo que toda alegria que é gerada em nós vem do alto e nos traz esperança, para continuarmos a corrida que nos foi proposta. Meu convite hoje para todos nós, é que possamos colocar nossos corações no lugar onde Ele está, porque Ele nos ama e tem prazer em estar conosco. Minha oração é que possamos nos alegrar com este amor, que foi capaz de morrer por nós para que possamos viver um amor que transborda e que transforma nosso homem interior e alcança os que estão ao nosso redor .

O fruto do Espírito é a mudança em nosso caráter que ocorre por causa da obra do Espírito Santo em nós. Assim, quando falamos sobre domínio próprio (ou “temperança”), estamos falando sobre a capacidade de controlar a si mesmo por meio do Espírito Santo. Mas, isso envolve moderação, restrição e a capacidade de dizer “não” aos nossos desejos mais básicos e concupiscências carnais. Filipenses 2:13 diz que:

“é Deus quem está agindo em você, tanto para querer como para trabalhar para o seu agrado”. Tudo que há de bom em nós, é fruto da obra do Espírito em nossas vidas.

É importante ressaltar que o pecado ainda está presente até que nossa salvação seja completa. Mas o pecado não é mais soberano sobre nós, não está mais no comando. Pois as paixões e desejos foram crucificados por meio do sacrifício de Jesus.

“Os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências” Gálatas 5:24.

O conceito de domínio próprio

O próprio conceito de “domínio próprio” implica que existe ainda uma batalha entre um “eu dividido”. Isso implica que nosso “eu” ainda produz desejos que não devemos satisfazer, mas sim “controlar” ou “negar”. Todos os dias isso acontece, pois, nossa natureza caída ainda sofre influência do pecado (Romanos 6: 6). O mundo externo e os desejos internos ainda nos atacam (Romanos 7: 21-25). Logo, Jesus nos disse que devemos negar a nós mesmos, tomar nossa cruz diariamente e segui-lo (Lucas 9:23). Jesus também diz: “Esforce-se (lute) para entrar pela porta estreita” (Lucas 13:24). A palavra grega para “lutar” é agonizesthe, na qual você ouve corretamente a palavra “agonizar”.

A boa notícia é que isso é possível, pois Ele não nos deu esse mandamento e nos abandonou para fazermos isso por meio de nossas próprias forças. Na cruz, Ele deu um golpe mortal na paixão e no desejo pecaminoso e todos que estão em Cristo são nova criatura (II Cor. 5:17), são regenerados e têm o Espírito Santo. Afinal, é Ele quem nos capacita a viver essa realidade.

O poder do Espírito em nós

O Espírito Santo está incessantemente nos ajudando e nos fortalecendo para resistirmos ao pecado e gerando o fruto do domínio próprio em nossas vidas. Dessa forma, é dom, é fruto que vem do próprio Deus, mas nós ficamos diariamente diante da escolha entre satisfazer os desejos da carne ou viver pelo Espírito.

Como uma cidade vulnerável, devemos ter defesas. Os muros ao redor das cidades antigas foram projetados para impedir a entrada dos inimigos. Haviam juízes nos portões que determinavam quem deveria ter permissão para entrar e quem deveria permanecer do lado de fora. Assim, os guardas e os portões colocavam em prática essas ordens. Dessa forma, as cidades tinham o domínio de quem entrava e quem saia.

Por isso, nas nossas vidas também devemos ter defesas para impedir que “os inimigos entrem pelos portões”. Isso pode ser: evitar alguns relacionamentos, desenvolver comunhão profunda com irmãos que também amam ao Senhor, meditar na Palavra de Deus e orar.

O fato é que agora podemos andar pelo Espírito. Uma das provas da atuação de Deus em nossas vidas é a capacidade de controlar os nossos próprios pensamentos, palavras e ações. Podemos vencer a carne pois Ele venceu e nos capacita a vencermos. Podemos viver uma vida verdadeiramente justa, podemos e devemos.

“Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito” Gálatas 5:25.

Segundo a Bíblia, caminhamos pelo Espírito

Deus matou a soberania da nossa carne e agora, caminhamos pelo Espírito, de acordo com Sua vontade e poder, conforme revelado nas Escrituras. Quando dizemos “não” pela fé no poder e prazer superior que há em Cristo, mesmo sendo difícil e doloroso, Cristo recebe a glória em nossas vidas nesse processo.

O Espírito nos instrui na preciosidade superior da graça, e capacitando-nos a ver e confiar tudo o que Deus é para nós em Jesus. “A graça de Deus apareceu. . . nos treinando para renunciar. . . paixões mundanas. . . na era presente” (Tito 2: 11-12).

O domínio próprio nos leva a deixar de lado a gratificação instantânea do mundo. O autocontrole é um dom que nos liberta de focarmos somente no hoje, na satisfação momentânea, e nos faz olhar para o futuro e para a plena satisfação que teremos em Cristo um dia. Ele restringe a condescendência com nossos desejos caídos e encontramos a liberdade de amar e viver como fomos destinados.

Quando realmente vemos e cremos no que Deus é para nós pela graça por meio de Jesus Cristo, o poder dos desejos pecaminosos é quebrado. Portanto, a luta pelo domínio próprio é uma luta pela fé.

“Combate o bom combate da fé. Tome posse da vida eterna para a qual você foi chamado.” 1 Timóteo 6:12

À medida que o Espírito Santo opera em nossas vidas, nosso caráter muda. Onde antes alimentávamos de sentimentos de raiva, mágoa, egoísmo, crueldade, agora possuímos amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Frequentemente ouvimos falar sobre o fruto do Espírito escrito no livro de Gálatas. Esse fruto, que produz o bom caráter cristão dia após dia na jornada, tem muitas características do caráter do próprio Deus. Em suma, ele é a consequência de uma vida de caminhada com o Espírito Santo e, assim, é impossível tê-lo por vontade própria, com a força do braço. 

“Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.” Gálatas 5:22  

Neste texto, vamos aprofundar sobre o conceito de benignidade, que significa também compaixão, doçura, amparo. Assim, bondade é virtude e santidade em ação. Além disso, benignidade é ter um coração bondoso em que ama o próximo como a si mesmo e se preocupa com o outro, o tratando com gentileza. Aqueles que buscam sempre amar e fazer o bem. Afinal, a amabilidade de Deus que flui através da sua vida é fruto gerado pelo Espírito Santo.

Todavia, quando olhamos para a criação, percebemos o quanto Deus é bondoso em tudo o que faz. Assim também, percebemos que cada detalhe da natureza mostra sua misericórdia conosco. 

Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus; Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus. Efésios 2:5-7  

Benignidade cristã 

Bondade cristã é aquela que se manifesta onde a natureza humana não teria capacidade de atuar. Portanto, benignidade é a marca de quem busca ser como Jesus e é o fruto de quem anda com o Espírito Santo. Quantas vezes já ouvimos sobre dar a outra face? Mas, na prática, quantas vezes já o fizemos? Benignidade cristã é, acima de tudo,  ter a capacidade de amar e perdoar os inimigos. É também agir com o bem quando naturalmente agiríamos com o mal.

Bendizei aos que vos maldizem, e orai pelos que vos caluniam. Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra; e ao que te houver tirado a capa, não lhe negues também a túnica. Lucas 6.28-29

Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; soltai, e soltar-vos-ão. Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo. Lucas 6:36-38  

Benignidade comum

É comum ouvirmos e até lembrarmos do quanto algumas pessoas são generosas, caridosas e cuidam daqueles que precisam. O nome de alguém específico veio em sua mente neste momento? Pessoas que não conhecem a Cristo, mas cuidam dos que mais precisam e muitas vezes são modelos em nossa sociedade. São vistas como referência e exemplos a serem seguidos. Mas, lembre-se, para se ter um coração realmente generoso e viver pelo fruto da benignidade é preciso do Espírito Santo.

Tiago 1:17 diz:

“Toda coisa boa dada e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes”.

Nosso modelo é Jesus

Deus decidiu ser bom independente do quão falho somos. Em suma, não merecíamos nada, absolutamente nada dEle. Mas mesmo assim Ele entregou seu filho por amor a nós.

E esse é o nosso maior exemplo: Jesus. Assim, Ele é a nossa inspiração. Podemos orar e pedir para olhar para o nosso próximo como Ele olha. Podemos e devemos seguir o exemplo de Jesus. Então, decida ser como Ele é. E quando tiver dúvida, sempre o pergunte o que Ele faria em cada situação.

Que Deus te abençoe!

A parábola dos talentos traz continuidade aos ensinos de Jesus, iniciado na parábola das dez virgens, no capítulo 25 do livro de Mateus. Essas duas parábolas estão ligadas a um comportamento de espera, onde percebe-se que cada parábola tem em seu contexto elementos semelhantes, mas intenções diferentes.

Na parábola das dez virgens Jesus nos mostra a necessidade da atenção com caráter interno, mas na parábola dos talentos Jesus nos fala da prática externa. Herbert Lockyer fala sobre a vigilância e ação, utilizando como exemplo o texto de Neemias 4:18.

“E os edificadores cada um trazia a sua espada à cinta, e assim edificavam, mas o que tocava a trombeta, estava junto de mim.” Hebert Lockyer

Loycker explica que esta é a combinação fornecida por essas duas parábolas: a parábola das dez virgens nos ensina a necessidade de vigilância e a dos Talentos, o dever do trabalho.

Esse contexto é importante para o melhor entendimento da parábola dos talentos. No antigo oriente, no tempo de Jesus, os ricos tinham uma prática bastante comum: quando esses senhores precisavam se ausentar da cidade, eles chamavam seus servos de maior confiança. E faziam deles os administradores de toda sua terra e seu dinheiro. Estes tinham liberdade para negociar e gerar lucro para o seu senhor no período que ele estivesse fora. É com base neste costume que a parábola dos talentos é contada. E não é difícil entendermos a sua mensagem: o senhor rico é o Senhor Jesus Cristo, e sua viagem se trata do período compreendido entre a sua primeira e a segunda vinda.

Mas o que eram esses talentos? O que Jesus estava querendo ensinar com essa parábola?

A palavra “talento” utilizada na parábola vem do termo grego “talanton” e no mundo romano do primeiro século, um talento era uma moeda de mais alto valor, o equivalente a 20 anos de trabalho recebendo um salário mínimo mensal. Contudo, apesar de estar mencionando essa quantia grande de dinheiro, Jesus não está aqui ensinando teoria econômica, mas ele está transmitindo uma mensagem. Há uma grande influência dos textos judaicos no ensino sobre a fidelidade ao Senhor e esta é parte da base para o princípio usado nessa parábola, como veremos a seguir.

Encontramos similaridades entre a parábola e um escrito judaico chamado “Ahiqar 192”: “Se o teu senhor te confiar água para que guardes, e não te mostrares confiável nesta tarefa, como ele poderá deixar ouro na tua mão?” Claramente o ensino de Jesus deixa transparecer a influência judaica – Jesus era judeu e praticava o judaísmo – e seus discípulos, aos quais ele contou essa parábola eram judeus e esse discurso não era algo desconhecido de suas realidades.

Outro exemplo de influência de literatura judaica

Está relacionada à expressão encontrada nos textos de Mateus 25:29 e Lucas 19:26. Existe uma semelhança destes textos com o texto judaico “m ‘Abot 4.2”:

“Corre para cumprir o menor dos teus deveres como se fosse o maior deles e foge da transgressão; pois um dever traz outro depois dele e uma transgressão traz outra depois dela; mas o prêmio de dever cumprido, é outro dever a ser cumprido, e o prêmio de uma transgressão é outra transgressão.”

Este texto está relacionado com o ensino de Jesus sobre a recompensa que teremos no dia do seu retorno. Os talentos nada mais são do que os dons dados por Deus para a edificação de sua Igreja a fim de prepará-la para o dia das bodas do Cordeiro, assim como o evangelho da salvação, a graça, seu amor, sua revelação descrita nas Sagradas Escrituras. São dons dados por Deus, nada do que usufruímos é nosso, portanto todo o resultado produzido com o que recebemos do Senhor pertence a Ele.

Por isso Paulo nos diz:

“Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” 1 Coríntios 10:31

Cabe salientar que dons espirituais são aqueles listados em Efésios 4:11-12 e servem para o aperfeiçoamento do corpo de Cristo. Enquanto que habilidades são capacidades naturais inerentes à cada um de nós e que podem ser cognitivas, sociais ou físicas.

De acordo com a parábola, na distribuição dos talentos, um recebe cinco, outro dois e o outro um talento, e podemos perceber que os dons surtem efeitos em uns mais do que em outros. Não podemos esquecer que as verdades de Deus são reveladas a todos servos, mas alguns servos recebem entendimentos espirituais diferentes. Cada um recebe os talentos na medida correta, nunca vamos receber de Deus mais do que aquilo que vamos usar. O critério da divisão dos dons que recebemos do Senhor está intimamente ligado à capacidade de cada um. Isso nos informa que existem pessoas com capacidades maiores do que outras. Entretanto, não podemos olhar para essa informação e afirmar que Deus está fazendo acepção de pessoas ao distribuir os dons. G. H. Lang diz:

“Deus não tenta colocar um lago dentro de um balde”.

O homem que tem uma capacidade maior de entendimento ou de desenvolver algo, tem privilégio maior quanto ao servir e tendo uma carga mais pesada em carregar.

Talvez, esse entendimento relacionado à distribuição dos dons possa trazer desconforto à alguns, por inferir que alguns são melhores do que outros. No livro de 1 Coríntios, Paulo fala claramente como os dons são distribuídos e qual o objetivo de todos eles (1Co 12:7) “A cada um de nós é concedida a manifestação do Espírito para o benefício de todos”, e Paulo continua no mesmo capítulo. Mas agora falando como essa distribuição se dá (1Co 12:11):

“Todas essas coisas, porém, são realizadas pelo mesmo e único Espírito, e ele as distribui individualmente, a cada um, conforme quer”.

Quando observamos o servo que recebera apenas um talento, não podemos de maneira nenhuma desconsiderá-lo! É preciso entender que sua capacidade de administrar era limitada a um talento somente! Imagine se o Senhor lhe confiasse algo além das suas capacidades? Seria um desastre e provavelmente um motivo de grande frustração para este servo.

Paulo fala sobre os diferentes dons em 1 Coríntios 12, e no versículo 28 ele fala sobre o dom de socorrer. Se analisarmos o dom como “somente socorrer” estaremos sendo precipitados, pois esse dom não é menor ou maior do que os outros. Mas juntos edificam o corpo de Cristo e farão com que a igreja desempenhe seu papel central.

A distribuição desigual dos dons tem muito a nos ensinar

Isso porque vamos perceber que o Senhor sempre sabe o que faz e nunca nos confia uma missão a qual não poderemos realizar. Aqueles que têm o privilégio de receber cinco talentos, a exemplo dos grandes pregadores, evangelistas e mestres, pessoas com grande capacidade de ensinar a outros, portadores de habilidades para comunicar as verdades espirituais, são pessoas que possuem grandes responsabilidades e se espera muito mais desses do que dos outros.

Aqueles que possuem dois talentos estão em uma posição mais discreta, onde possuem habilidades limitadas e não estão muito em evidência, recebendo do Senhor essa porção. Quanto ao servo que recebeu um talento, ele mesmo desprezou aquilo que recebeu do Senhor e não cumpriu com sua missão. Atitude que denuncia que este servo não conhecia ao seu senhor.

Honra e recompensa

Contudo, aqueles dentre nós que menos têm, recebem a responsabilidade de servir ao Senhor com o que possuem. E se o servirem fielmente com o pouco que ele concedeu, serão honrados e recompensados. A verdadeira arte de viver é aceitar nossas limitações que foram concedidas por Deus, e não lutar contra elas murmurando ou mostrando insatisfação com aquilo que recebeu do Senhor.

No serviço para Deus, é melhor estar em último, com fidelidade, do que ser o primeiro com deslealdade, entendendo que sempre se esperará mais do que possui mais talentos. Um exemplo claro dessa responsabilidade está no livro de Tiago (3:1), quando ele afirma que aqueles que ensinam terão uma responsabilidade maior que outros e ainda serão julgados de uma forma mais severa. Em nossa caminhada cristã, aquilo que será recompensado não se refere às nossas capacidades intelectuais ou o nosso brilhantismo em gerenciar os dons. Seremos recompensados pela devoção e pela fidelidade ao Senhor. Como falou Herbert Lockyer: “Se não podemos ser um Moisés, sejamos semelhantes a Arão ou a um levita inferior e leal”.

Outro aspecto importante

Além da responsabilidade, outro aspecto importante é a diligência. Ao lermos o texto com atenção, observaremos que os dois servos que receberam mais talentos “saíram imediatamente”. Isso demostra a importância dada à diligência e a preocupação dos servos em fazer com que o talento recebido gerasse lucro, pois não sabiam quando seria o retorno do seu Senhor.

Mais uma vez, Jesus nos ensina acerca do seu retorno através do texto de uma parábola. Os cristãos de hoje parecem não estar preparados para lidar com a escatologia de Jesus, como estavam os cristãos do passado. Com isso os sermões dessa parábola na era moderna, estão mais ligados ao tempo presente, firmados naquilo que chamamos de pensamento do sucesso “quanto mais tenho mais favorecido por Deus eu sou”. Porém, o sucesso que essa parábola está se referindo está relacionado com uso que se faz da mensagem do reino.

A fidelidade deve estar associada ao ensino de Jesus sobre o tempo presente e o futuro, e o conhecimento do Reino nos traz uma responsabilidade adicional. O fato da demora da “parousia” não nega a fé escatológica, mas reforça a questão da fidelidade. Esses dois servos eram diferentes quanto aos talentos recebidos, mas idênticos quanto à obediência, diligência e fidelidade ao seu senhor; entretanto, receberam uma recompensa idêntica, independente do número de talentos recebidos. O que irá conquistar a aprovação do Senhor quando ele retornar, não é a fama que conquistamos com os talentos, mas a fidelidade que mostraremos enquanto O aguardamos.

Que nosso coração possa ansiar mais do que tudo o dia em que nos encontraremos com o nosso Senhor!

Que possamos ter uma vida de diligência e fidelidade sabendo que o Senhor é galardoador daqueles que o buscam! Apocalipse 22:12 diz: “Eis que venho em breve, a minha recompensa está comigo, e eu retribuirei a cada um de acordo com o que fez”. Em sua graça, o Senhor nos deu dons e talentos para que possamos realizar as boas obras, e estas serão recompensadas! Este é o galardão da graça, que cada um de nós receberá de maneira completamente justa e apropriada! Naquele dia, todo santo será recompensado por Deus, por causa das suas obras, de forma que a obra iniciada nesta vida será finalizada. E a glória de Deus brilhará em cada santo para o louvor do Seu nome.

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